19 de junho de 2011

Teu dom?



Menosprezar seu dom? Impossível. Aliás, eu deveria chamar isso de dom? Chamá-lo assim é a própria imagem do menosprezo, porque o que você faz é além disso, transcende os céus e explode as estrelas, cria vidas novas e sentimentos desconhecidos. Dom? Dom não é o que você tem, mas sim um privilégio absorvido dos celestes, algo tão perfeito e profundo que afaga a verdadeira existência humana e os mais distantes sentimentos. Dom? Dom é o que eu tenho: apenas mais um mortal com a capacidade pouco mais acentuada que outros, mas nem por isso superior. Sou acessível, alcançável, desprovido desta dávida celestial que você possui. Um simples mortal que, enfocado neste ramo, procura tocar a perfeição que provém de você, embora eu saiba que tal feito seja improvável. É como Platão um dia falou: "Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele". Poetas... Sim, eu sou um, bem como outras centenas de milhares de pessoas. Embasadas em conhecimentos ou não, somos pessoas capazes, através do esforço, de alcançar esta utopia mínima da literatura. Mas, e quanto a você? És mais que poeta, mais que uma simples pessoa detentora da cultura e dos conhecimentos. És o ser mais belo dos escritores, o mais belo dos poetas, a primazia da perfeição. Já eu, estarei aqui, fadado ao declínio de uma existência fracassada. A razão disto? Eis a explicação: jamais te alcançarei, minhas palavras nada são perto da grande conjunção das tuas. Sou um tolo sonhador, um bobo escritor, uma criança ingênua. Jamais estarei perto de você, nem mesmo minha metalinguagem mais perfeita definirá, com precisão, tudo aquilo que és capaz de construir em apenas uma linha, um parágrafo ou um texto inteiro.

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